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Retomar os arquivos, abrir a história

No quarto encontro do Colóquio, a professora e pesquisadora Beatriz Furtado (UFC) mediou uma conversa entre Vincent Carelli (Vídeo nas aldeias) e Maurício Lissovsky (UFRJ) e logo nos lança uma pergunta de abertura que registramos aqui: O que pode politicamente uma imagem?

No pequeno vídeo abaixo, a questão é projetada abordando um duplo sentido da noção de arquivo, que será explorado mais tarde pelos convidados em suas falas. Primeiro, a construção do arquivo como a memória desejada na construção de si e de um nós. Em segundo lugar, a possibilidade de abrir a história com o arquivo, de desconstruir as imagens para encontrar novas redes de sentido.

A primeira fala do cineasta Vincent Carelli é sobre a devolutiva. Expõe algumas das percepções em torno dos desejos de uso da câmera pelos povos indígenas, na tentativa da (re)construção de uma memória, revendo neste percurso uma certa cronologia que perpassa a história do Vídeo nas Aldeias. São trabalhadas as perspectivas da construção de um legado, da preservação dos ancestrais e num momento mais avançado das relações estabelecidas entre a imagem e os povos indígenas, destaca a vontade de se filmar os rituais e recriar os mitos.

Carelli identifica duas dimensões importantes da devolutiva, uma ligada à imagem que se quer formar de si, outra sobre a possibilidade de uma imagem do nós. A questão é colocada da seguinte forma:

Ao final do encontro, indagado sobre a segunda dimensão que mencionara no trecho acima, Vincent completa o raciocínio, como podemos notar no momento selecionado abaixo. Seria importante frisar aquilo que o cineasta ressalta como aspectos que dão qualidade às formas de devolutiva dos arquivos. Por um lado a sua instrumentalização, ou seja, criar as condições para que um povo possa se apropriar do registro de sua própria imagem; e por outro, a questão do momento certo da devolutiva, tentando refletir sobre o contexto capaz de gerar uma demanda específica por estes materiais. Ambos parecem ser pontos centrais para políticas públicas que deveriam ganhar força no cenário nacional, na relação entre arquivos e história, mas infelizmente temos visto o contrário.

Fazendo um movimento inverso na relação de uso do arquivo, Maurício Lissovski, terceiro convidado da tarde, demostraou com sua pesquisa uma operação correlata, no sentido anunciado pela mesa do encontro: retomar os arquivos, abrir a história. Sua reflexão se dá em torno de fotografias encontradas em um arquivo inglês sobre as ditaduras na América do Sul. A foto que movimenta a fala retrata um grupo de combatentes do exército brasileiro que encena a tortura, ressaltando o valor do herói que vai lutar contra o suposto inimigo no Brasil.

Para refletir sobre a imagem e iluminar algumas questões a partir dela selecionamos o pequeno trecho da fala que Lissovsky nos aponta um método profícuo de perceber a imagem no movimento de se “abrir” a história, ou seja, para recolocar questões capazes de reorganizar a memória.

Para nosso debate, haveriam pelo menos duas perguntas de partida. Como a história de um sentimento guardado em um arquivo (o orgulho da tortura expressado na foto encontrada por Lissovski) atravessou a história e se fez manifestar como novidade no presente? O que podemos aprender com os povos indígenas que têm que se reinventar constantemente para poder existir com um mundo ocidental capitalista que fere todos seus princípios ancestrais? Por fim, no esteio da discussão – depois uma tarde de conversas que pode ser acompanhada na íntegra pela página do Poéticas da Experiência no Youtube – uma última questão movimentou com inquietações o Colóquio. Num diálogo provocado pela professora Roberta Veiga, acerca da pergunta de “quem são os espectadores dessas imagens?”, lança-se uma problemática que parece reunir os principais pontos da discussão, ou pelo menos, um dos lugares mais interessantes aos quais a reflexão nos levou nesse primeiro momento.

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