Resumo: Os estudiosos e os simpatizantes mais pensativos do cinema estão sempre, de um modo ou de outro, articulando categorias gerais do pensamento à matéria particular dos filmes. A comunicação abordará dois momentos em que a elaboração de um pensamento cinematográfico vigoroso ficou aquém da riqueza dos filmes que suas categorias ajudariam a iluminar: 1) o silêncio de Theodor Adorno sobre a tradição do filme-ensaio, que ele caracterizou sem se dar conta no artigo “Transparências do filme” (1966), escrito mais de dez anos depois da redação de seu texto sobre “O ensaio como forma” (1954), e 2) o silêncio de Paulo Emílio Salles Gomes sobre o Cinema Novo brasileiro, cuja emergência ele preparou com sua militância crítica desde os anos 50, mas cuja produção ele nunca chegou a examinar para valer, embora tenha morrido quinze anos depois da eclosão do movimento. Para além de seu interesse historiográfico, a discussão desses dois pontos cegos de intelectuais admiráveis em sua lida com o cinema nos sugere, aqui e agora, um princípio de método em nosso diálogo com os pensadores mais influentes do presente: o de tentar sempre que possível interpelá-los a partir dos filmes (ou da história do cinema), ao invés de invocá-los como fiadores epistemológicos da nossa atividade crítica.