Resumo: São inúmeros os documentários brasileiros atravessados pela ausência, pelo luto e pelo fracasso, seja do próprio filme, das relações com o outro filmado ou do movimento da história. Na contramão da permanente demanda por sucesso e otimização da performance que pauta nossas vidas, o fracasso no documentário pode também operar como um exitoso modo de criação e produção. Se essa espécie de negatividade constitutiva – já que a linguagem, assim como a imagem, é sempre testemunho de sua ausência – possui, em alguns casos, uma dimensão produtiva, é porque as obras em questão fazem de seus limites, ruínas e impotências a condição de possibilidade de suas vigorosas (e não menos problemáticas) existências. Para as “estéticas da negatividade” poder fracassar significa se abrir ao erro, ao desconhecimento, ao desencontro, ao não entendimento. Poder fracassar significa assim se abrir à liberdade e à simplicidade de quem irredutivelmente diz, como Bartleby, o escrivão, “preferiria não”.
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