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Arquiteturas da Insurreição, pela câmera de Peter Watkins

por Rita Velloso


Novembro de 1999 é uma data limítrofe para o campo dos estudos urbanos. Naqueles dias, com os protestos de Seattle, recoloca-se em pauta, para o urbano, uma crucial questão teórica e metodológica. Dava-se, àquela altura, mais um momento da particular tradição de luta insurreicionista nas grandes cidades, estabelecida sobretudo desde a Comuna de Paris em 1871, mas desdobrada em incontáveis episódios insurreicionais ao redor do mundo desde o século XIX. No período entre 2000-2014, são decisivos os esforços para compreender a repercussão espacial dessas lutas quanto à transformação operada nos modos de usar os lugares urbanos. No esforço de narrar um urbano insurreicionista, desde então pesquisas nos campos da história e da teoria urbanas indagam, evidentemente mais abrindo que preenchendo lacunas, de que forma – e até de que ponto – pode-se tomar a insurreicão de 1871 como o substrato histórico de momentos recentes, quais sejam, os movimentos anti-globalização em torno de 1999 (Seattle, Gênova, Praga, Québec), o movimento Piqueteros na Argentina, os estudantes no Chile, as revoltas nas periferias de Paris em 2005, de Londres em 2011, a Primavera Árabe, o movimento OCCUPY e, finalmente, aquilo que vem se convencionando denominar Ciclo Global de Lutas, de que faz parte também o Brasil, com as manifestações de junho de 2013. Em direção a uma estratégia compreensiva para as insurreições do presente, naquilo que concerne aos efeitos dessas na apropriação dos lugares pelos atores sociais e na (re)configuração material dos espaços em que se desenrolam, trago aos estudos urbanos o filme de Peter Watkins, La Commune (Paris, 1871) [França, 1999-2000], talvez a mais contundente narrativa sobre a arquitetura insurreicional que se instalou em 1871. Propondo superar o que considera serem “formas unidimensionais de realizar cinema”, Watkins rompe com padrões cinematográficos a que denomina “monoforma”, realizando um filme cujo alvo é a explicitação da lógica autoritária e previsível em que se inserem as experiências imagéticas e espaciais do público.

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