Recebemos com muita admiração o poeta, ensaísta e professor Edimílson de Almeida Pereira na abertura do IX Colóquio de Cinema, Estética e Política. Pela primeira vez fazemos o Colóquio à distância, mas justamente refletindo sobre esta condição. No curtíssimo vídeo abaixo veja a fagulha de afeto que se instaura no instante inicial de nossa conversa.

Para quem conhece ou quer conhecer o Edimilson, suas poesias estão em diversos lugares e sua pesquisa também. A revista Piauí em sua edição de outubro de 2019 publicou duas delas, dentre as quais destacamos “De Volta ao Sol”, uma preciosidade que está profundamente relacionada com a conversa que tivemos.

DE VOLTA AO SOL 

O manto tupinambá ganho comprado furtado, quem saberá?
– sabemos, é um ninho preso às paredes de outro continente.
Depois de séculos, apesar do vidro que lhes tira o oxigênio,
o vermelho sangue do guará e o azul oceano da araruna
segredam algo que excede o museu nacional de copenhague.
Todo algodão e envira, o manto tem a dimensão da mata
– vale pagar o ingresso para ver o vidro, jamais o espírito
que incendeia o egoísmo do alarme? O manto rol de esferas
arde de tanta memória. Seu lugar não é aqui, será, quem sabe?
no limo que molda todos os corpos. Imagine se insuflado no ar
rarefeito o manto se abrisse. Que tese posta à mesa explicaria
os mortos, vivos enfim, em resposta ao rapto das almas?
O manto quer voar para casa. A morte de seus filhos torna
inútil sua permanência. É preciso que ele se perca
para acusar os assassinos. Ante essa inominável memória
algo será reiniciado – a raiz do que já não é árvore, mas
frutifica – o rugido do que não é onça, mas afia as garras –
a umidade do que não é chuva, mas afoga a mão criminosa.
Exilado num continente onde avós, para irem ao cinema,
colam os netos à sombra, o manto reflete sua natureza – ágil
urna em território de neve. Ao redor do vidro, línguas tecem
em silêncio por respeito ou desprezo, não sei – sabemos.
Entre aqueles que fiaram o manto, um canto se alonga
alheio ao seu sequestro. Sobre a terra desolada um pássaro
voa. Num filme etnográfico chama os culpados pelo nome.
Haverá, diante disso, ossos suficientes para serem atirados
contra o vidro? O manto tupinambá é um ninho na escuridão
do mundo – respira num oceano de espelhos a sua ira.

De volta ao encontro, saudamos a perspicácia e argúcia do autor em sua fala com tanta precisão e poesia. No trecho abaixo, introdutório, nos revela uma dimensão sobre nosso próprio grupo de pesquisa a partir de seu nome, apontando as direções unívocas entre as Poéticas e a Experiência.

Assista ao encontro na íntegra a partir do nosso canal no Youtube, o Poéticas da Experiência.

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