por Ilana Feldman
David Perlov – Diario
O cinema autobiográfico tem problematizado de forma cada vez mais instigante o modo pelo qual a subjetividade, constituindo-se na imagem e por meio da imagem, pode tornar-se condição para a relação com a alteridade. Nesse panorama, as obras autobiográficas do cineasta brasileiro radicado em Israel David Perlov, do israelense Avi Mograbi e do palestino Elia Suleiman interrogam as interseções entre as esferas pública e privada, a história e a memória, o pessoal e o político, fazendo da escrita de si a mais potente forma de escrita do outro. Na comunicação proposta, analisaremos fragmentos de Diário 1973-1983 (Perlov, 1985), Vingue tudo, mas deixe um dos meus olhos (Mograbi, 2005) e O que Resta do Tempo (Suleiman, 2009), sendo as três obras realizadas em Israel, país que, marcado por dissensos políticos e conflitos milenares, tem fomentado uma das mais expressivas produções cinematográficas da atualidade. Se Perlov encarna a figura da angústia e do mal-estar, Mograbi a figura do confronto e Suleiman a figura da perplexidade, a identidade de cada um dos realizadores vai se confundir com a alteridade de seus próprios personagens: pois é apenas a partir desse lugar que o radicalmente outro – o outro do outro – pode ser, em cada um dos filmes e de distintas formas, evocado, ouvido, entrevisto ou figurado. Perceber e pensar sobre essas aparições e coabitações na imagem é o que nos interessa.
Avi Mograbi – Vingue tudo
Elia Suleiman – O que resta do tempo